Parashá Devarim

Parashá Devarim, Devarim 1:1-3:22.
Haftará de Devarim, Yeshai’ahu 1:1-27.

Shabat da Visão
O Shabat anterior a Nove de Av é chamado Shabat Chazon (“Shabat da Visão”) após as palavras iniciais da leitura do dia dos Profetas (“Haftará”), que é a terceira da série de leituras conhecida como “As Três de Admoestação”. Neste Shabat, dizem os mestres chassídicos, nos é concedida uma visão do Terceiro Templo; não podemos vê-lo com nossos olhos físicos, mas nossas almas o veem, e recebem o poder de se libertar de nosso estado atual de galut (exílio e deslocamento espiritual) e trazer a Redenção e a reconstrução do Templo.

Resumo
Esta semana começamos o quinto e último livro da Torá, Devarim (Deuteronômio), conhecido na literatura rabínica como Mishnê Torá, a revisão da Torá. Seu conteúdo foi falado por Moshê ao povo judeu durante as cinco semanas finais de sua vida, enquanto o povo se preparava para entrar na Terra de Israel. Nele, Moshê explica e comenta muitas das mitsvot outorgadas previamente e outras que aqui aparecem pela primeira vez. Ele também os adverte continuamente a permanecer diligentes e fiéis às leis e ensinamentos de D’us.
A Parashat Devarim (Devarim 1:1-3:22) começa com a velada censura de Moshê, na qual faz referência aos numerosos pecados e rebeliões dos quarenta anos anteriores. Prossegue então relatando vários dos incidentes mais significativos que ocorreram com o povo judeu no deserto, lançando uma luz sobre as narrativas prévias da Torá. 
Moshê fala da malograda missão dos espiões: dez dos doze homens enviados para vigiar a terra tinham voltado com um relatório negativo, e devido à falta de fé do povo, D’us condenou toda a nação a vagar por quarenta anos no deserto, tempo durante o qual a geração do êxodo morreu. Moshê então avança para discutir a conquista dos Filhos de Israel da margem leste do Rio Jordão. A Porção da Torá conclui com palavras de encorajamento para o sucessor de Moshê, Yehoshua.

Mensagem
O Livro de Devarim contém as palavras de Moshê aos Filhos de Israel; é basicamente um sumário dos primeiros quatro livros da Torá. De fato, a palavra “Deuteronômio”, tirada da palavra grega Deutronomion, na verdade significa “Segunda Lei”, basicamente uma repetição da Torá. Isso nos faz pensar. Por quê? Por que razão D’us incluiu na Torá todo um quinto livro que consistia basicamente de uma revisão?
Compreensivelmente, podemos extrair um lição significativa da inclusão deste quinto livro, aparentemente supérfluo. Talvez a seguinte intrigante declaração, conforme relatada no Talmud, possa lançar um pouco de luz na situação. O Talmud enfatiza que quando uma pessoa está revisando algo, deveria fazê-lo por 101 vezes. Qual a diferença entre 100 e 101 vezes? 
Os comentaristas do Talmud explicam que, sob uma observação psicológica, a pessoa revisará um conceito 100 vezes simplesmente para alcançar um objetivo elevado. A verdadeira revisão é superada pela conquista manifesta da pessoa. Em termos bem simples, 100 é um belo número redondo. Revisar 101 vezes demonstra a suprema natureza do caráter da pessoa envolvida. Ao revisar 100 vezes, dirá talvez: “Completei minha missão”. Revisar 101 vezes, no entanto, diz que você está acima e além do chamado do dever.
Quantas vezes ao final de uma palestra declaramos: “Poxa, isso foi incrível. Pretendo aproveitar estas lições em minha vida cotidiana”. Quantas vezes aprendemos algo em uma aula que realmente nos inspira? Quantas vezes lemos um artigo sobre as lições da Torá pensando como ele é esclarecedor? Porém, apenas um dia depois, as lições e inspirações simplesmente desaparecem. Voltar aos nossos empregos e rotinas diárias simplesmente apaga aquilo que aprendemos apenas um dia antes. 

Se pudéssemos separar o curto tempo necessário para revisar, imagine como seria mais duradouro o impacto que teriam estas lições. Ao implementar até mesmo o mais brando regime de revisão, podemos usar as lições que aprendemos na aula ou lemos em um livro para elevar-nos a níveis mais altos na compreensão e prática da Torá, sem ao menos percebermos isso. 
Declaremos então como ato revisionário de nossa fé a leitura do Shemá que é um mandamento positivo da Torá que deve ser cumprido duas vezes ao dia: pela manhã na prece de Shacharit e após o anoitecer na prece de Arvit. Uma vez que o Shemá da manhã deve ser lido no primeiro quarto do dia, é aconselhável lê-lo logo após as Bênçãos Matinais, antes da prece de Shacharit para não atrasar este horário e durante a prece de Shacharit, o Shemá será lido novamente na sequência normal da prece.
O Shemá é composto de três trechos da Torá (Deut. 6:4-9; 11:13-21; e Num 15:37-41) que devem ser lidos cuidadosamente e sem interrupção, seja por palavras, seja por gestos. Os homens costumam beijar os tsitsit (na leitura do Shemá de dia) cada vez que mencionam esta palavra no meio do terceiro parágrafo do Shemá e também na última palavra ("emet").
Cobrem-se os olhos com a mão direita ao recitar o primeiro versículo do Shemá para maior concentração. Ao pronunciar o Ad-nay, deve-se ter em mente que Ele é o Eterno, i.e., existe, existiu e existirá. A última palavra do primeiro versículo ("Echad"), composta de três letras hebraicas, deve ser pronunciada com ênfase especial, enquanto se reflete sobre seu significado: a primeira letra, alef, com valor numérico 1, diz respeito ao D’us UM; a segunda, chet, com valor numérico 8, significa que Ele tem soberania absoluta sobre o infinito Seus mundos; a terceira, dalet, com valor numérico 4, lembra que Ele também domina os quatro pontos cardeais. No final do terceiro trecho, as três últimas palavras antes de "emet" são para declarar a verdade absoluta desta coisas.
Moshê Rabeinu explicou em detalhes a primeira Mitsvá: "Crê em Hashem”. Disse ele: “Shemá Israel, Ad-nay Elohênu, Ad-nay Echad”, "Ouve, Israel, Ad-nay é nosso D’us, Ad-nay é Um”.
Quando pronunciamos este versículo, aceitamos o domínio de Hashem.
No passado, as nações não conseguiam acreditar que havia um só D’us. Alguns pensavam que havia duas (ou mais) divindades: uma boa e outra má. Mesmo hoje, muitas nações não acreditam num único D’us. Atualmente no Oriente há ainda povos que adoram ídolos. No mundo ocidental muitas pessoas acreditam em D’us. (Ao mesmo tempo, entretanto, curvam-se a imagens e adoram um dito homem que não existiu como deus.) E algumas pessoas "esclarecidas" não acreditam de todo na existência de D’us. Moshê ensinou a verdade a Benei Israel. O mundo é governado por UM D’us. Ele é tanto um D’us misericordioso como um D’us severo.
Nossos sábios ordenaram que cada judeu proclamasse sua crença, recitando o versículo "Shemá Israel" duas vezes ao dia, pela manhã e à noite.
Se você olhar o versículo do Shemá num Sêfer Torá ou em um Chumash, verá que duas letras desta frase têm o tamanho maior. São elas: áyin e dalet. (O áyin, a letra final da palavra Shemá e o dalet, no final da palavra echad).
Estas duas letras formam a palavra "testemunha". D’us disse: "Vocês, o povo judeu, são testemunhas de que sou UM. Na Outorga da Torá, vocês viram claramente que sou o único D’us”.

O versículo "Baruch shem kevod malchutô leolam vaed"

Após recitarmos o primeiro versículo do Shemá, adicionamos em silêncio as palavras: "Bendito seja o nome de Seu glorioso reino é Eterno!”.
Este versículo não é encontrado na Torá. Por que razão o acrescentamos?
Quando Moshê foi para o céu, ouviu os anjos louvarem D’us com estas palavras. Ele decidiu ensiná-las a Benei Israel. Dizemos o versículo em silêncio porque D’us não o deu diretamente a nós na Torá.

As três Parshiyot de Shemá têm 248 palavras 

Quando um judeu reza sozinho, repete as palavras: "Ani Hashem Elokêchem" no final da leitura do Shemá. Por quê? Os três parágrafos do Shemá, mais aquelas três palavras, perfazem 248 palavras. O corpo de uma pessoa tem 248 partes. Nossos sábios ensinam que se pronunciamos com cuidado cada uma das 248 palavras do Shemá, D’us protege cada uma das 248 partes de nosso corpo. Sempre que rezamos, é importante pronunciar cada palavra. Se as pulamos ou pronunciamos de forma incorreta (principalmente as palavras "D’us” e "Elokênu") então não estamos rezando devidamente. Quando dizemos Shemá, é ainda mais importante pronunciar cada palavra claramente, mesmo que isso leve mais tempo. 

Veahavtá / O segundo versículo do primeiro parágrafo do Shemá

Moshê continuou: "Veahavtá et Hashem Elokecha bechol levavechá uvchol nafshechá uvchol meodêcha"; "Ame a D’us, teu D’us, com todo o teu coração, com toda a tua alma, e com todas tuas posses”. Por que D’us deseja que O amemos? Se O amamos, cumpriremos Suas mitsvot muito mais cuidadosamente. Se você ama D’us, pensará antes de cada mitsvá: "De que maneira posso cumprir melhor esta mitsvá?" Avraham, Yitschac e Yaacov cumpriram a mitsvá de "amar D’us” da forma em que está ordenada no Shemá: Avraham amou D’us com todo seu coração. Quando Avraham já era um homem velho, D’us disse-lhe para oferecer seu único filho Yitschac em sacrifício. Avraham amava Yitschac. Mesmo assim, cumpriu a vontade de D’us mostrando a força de seu amor por Ele. Da mesma forma, somos ordenados a resistir à nossos impulsos e amar D’us de todo o coração. Yitschac é um exemplo de alguém que estava pronto a oferecer sua vida a D’us. Concordou em ser sacrificado por Avraham no monte de Moriyá. Nós, também, devemos amar tanto a D’us que estejamos prontos a renunciar a nossa vida por Ele. Yaacov estava pronto a doar toda sua fortuna para D’us. Na casa de seu pai, Yaacov aprendeu a ama-Lo, antes de preocupar-se em enriquecer. A caminho da casa de Lavan, prometeu dar a D’us um décimo de todas suas posses. Após tornar-se rico na casa de Lavan, Yaacov deu tudo que havia ganho ao seu irmão Essav, para comprar sua sepultura na gruta de Machpelá. Quando Moshê ordenou aos judeus: "Ame D’us com todo seu coração, com toda sua alma e com todas suas posses”, pôde usar os patriarcas como exemplos perfeitos. 
Moshê continuou: "Vehayu hadevarim haêle asher Anochi metsavechá hayom al levavêcha"; "Estas palavras que Eu te ordeno hoje ficarão sobre teu coração”. Não devem sentir que estas palavras são velhas; devem sentir-se como se as tivessem recebido ainda hoje no Monte Sinai. “Veshinantam levanêcha vedibartá bam beshivtechá bevetêcha uvlechtechá vadêrech uvshochbechá uvcumêcha”; “Inculcá-la-ás diligentemente em teus filhos e falarás a respeito delas, estando em tua casa andando por teu caminho, e ao te deitares e ao te levantares”. Fale sobre a Torá mais que sobre qualquer outro assunto”. Um pai judeu deve começar a ensinar Torá aos filhos antes mesmo de começarem a pronunciar suas primeiras palavras. Ensina primeiro este versículo aos filhos: “Torá tsivá lânu Moshê morashá kehilat Yaacov”; “A Torá que Moshê nos ensinou é um legado para a congregação de Yaacov" (Devarim 33:4). Ensina então o versículo "Shemá Israel" e outros versículos. 
“Ucshartam leot al yadêcha vehayu letotafot ben enêcha”; “Atá-las-ás como sinal sobre tua mão e serão por filactérios entre teus olhos”. Quando um menino judeu atinge a idade de bar-mitsvá, coloca tefilin no braço e sobre a cabeça. Os tefilin na cabeça são como uma coroa (o local onde os tefilin assentam sobre a cabeça é onde os reis judeus eram ungidos com óleo). Os tefilin são atados à cabeça e braço com correias de couro. As tiras mostram que estamos intimamente "atados" a D’us. Os tefilin, na verdade, deveriam ser usados durante todo o dia. No passado, os judeus usavam tefilin o tempo todo, em casa e no Beth Hamikdash. Dizia-se que Rabi Yochanán e Rabi Yehoshua ben Levi nunca andavam mais que uma curta distância sem usar seus tefilin. Gerações posteriores não eram suficientemente santas para colocar tefilin durante o dia todo. Começaram a usá-los apenas para as preces matinais. "Uchtavtam al mezuzot betêcha uvish’arêcha"; "Escrevê-la-ás nos umbrais de tua casa e em teus portões”.A cada vez que entramos e sairmos de nossa casa, devemos olhar para as mezuzot e lembrar-nos de cumprir as mitsvot. Veja como é importante o primeiro parágrafo do Shemá! Contém mitsvot muito importantes: amar a D’us, aprender e ensinar Torá, colocar tefilin, e colocar mezuzot em nossa casa.

גוט שבוס
שבת שלום
הרב יצחק כהן 

Gut Shabos!
Shabat Shalom!
Rav Itzhak Cohen

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