O ETERNO D'US DE ISRAEL


O princípio fundamental da religião judaica é a existência absoluta de D'us. O judaísmo revela que D'us é um Ser pleno de propósitos, criador de um mundo no qual o homem tem uma razão de ser.
Maimônides, o maior de todos os filósofos judeus, inicia o seu Código de Leis com a afirmação de que o fundamento de todos os fundamentos e o pilar de todo o conhecimento reside em saber-se que existe um D'us que dá vida a todos os seres. Similarmente, o primeiro dos Treze Princípios de Fé Judaica, outra obra de Maimônides, proclama que D'us é o Criador Único e Senhor de todas as coisas. O judaísmo se inicia e termina com a menção a D'us - o D'us de Abrahão, Isaac e Jacob, que, ao longo de toda a Bíblia, se autodenomina "D'us de Israel".

No entanto, quem é este D'us de Israel? O que sabemos sobre este D'us que libertou o povo judeu da servidão no Egito e, a seguir, revelou-Se a eles no Deserto do Sinai?

D’us verdadeiro

Na Bíblia, o profeta Jeremias proclama que "o Senhor D'us é a Verdade; Ele é o D'us Vivo..." (Jeremias 10:10). O profeta assim nos dá os conceitos mais básicos acerca de D'us. Como o D'us de Israel é um D'us Vivo, Ele certamente é tão existente e presente quanto qualquer outro ser. Portanto, D'us não pode ser apenas considerado como um "princípio universal" ou um "conceito filosófico", como tentam apregoar alguns pensadores. Além disso, como o D'us de Israel é o D'us verdadeiro, Sua existência é real e incondicional, não sendo, portanto, sustentada ou definida pela fé ou imaginação de um ou outro indivíduo.

D’us oculto

E, no entanto, apesar de ser D'us Vivo e Verdadeiro, o D'us de Israel nos parece, com frequência, misterioso e inatingível. A Torá relata que nem mesmo Moisés, o maior entre todos os profetas, podia perceber plenamente o alcance da Glória Divina (Êxodo 33:18-20). Em outra parte da Bíblia, o profeta Isaías clama diante de D'us: "Tu és um D'us misterioso, que te ocultas" (Isaías 45:15). E, em uma obra clássica do Zohar consta que "Não há ideia ou pensamento que possa abarcar a plenitude de D'us" (Tikunei Zohar, 17a). O Rabi Shneur Zalman de Liadi, fundador do movimento Chabad-Lubavitch, explica-nos que assim como fisicamente uma mão não consegue agarrar um pensamento, tampouco consegue a mente humana captar a plenitude de D'us.

Na Torah D'us nos aponta que o homem jamais O entenderá verdadeiramente, assim como não entenderá os Seus caminhos (Isaías 55:8-9). Entretanto, D'us também proclama que se verdadeiramente O buscarmos, com todo o nosso coração e toda a nossa alma, certamente O encontraremos (Deuteronômio 4:29). De fato, apesar de nenhum ser humano jamais poder alcançar o Divino, nem tampouco captar toda a Sua essência, há uma enormidade de noções acerca de D'us que nos são conhecidas.

Criador do Universo

A Bíblia basicamente define D'us como o Criador de todos os seres vivos e inanimados. Não há absolutamente nada no universo, quer seja espiritual ou material, que não se tenha originado de D'us. O verso de abertura da Torá nos relata: "No princípio criou D'us os Céus e a Terra" (Gênese 1:1). Adiante, afirma: "Eu sou o Senhor, que faço todas as coisas" (Isaías 44:24). Claramente, por ter criado todo o universo, D'us criou todas as matérias físicas.

No artigo intitulado "O que sabemos acerca de D'us", Aryeh Kaplan, renomado rabino e físico norte-americano, utiliza a Teoria da Relatividade de Einstein para derivar algumas definições básicas sobre D'us. O Rabi Kaplan escreve que a Teoria da Relatividade estabelece que espaço e tempo são atributos da matéria. Isto significa que em tendo criado tudo o que é físico, D'us simultaneamente criou as noções de espaço e tempo. Como, obviamente, D'us antecede Suas criações, Ele não é afetado nem determinado pela matéria, espaço ou tempo.

Tempo

E como D'us esta além da noção de tempo, todas as estruturas temporais - início, período de existência e fim - não se aplicam a Ele. As pessoas geralmente perguntam: se D'us criou o universo, quem, então, criou D'us? A estas se responde que D'us esta além da noção de tempo que Ele mesmo criou. Portanto Ele não teve início, nunca foi criado. D'us sempre existiu.

O judaísmo sempre afirmou que D'us é Eterno, não teve início, "não envelhece" e não tem fim. Como nos explica o Rabino Aryeh Kaplan, o fato de D'us manter-se apartado de qualquer atributo de tempo nos revela ainda mais sobre a natureza de Sua existência. As mudanças somente ocorrem dentro de uma estrutura de tempo e, portanto, D'us não vivencia mudanças. Este conceito também é mencionado na Bíblia: "Porque Eu sou o Senhor, eu não mudo" (Malaquias 3:6).

Matéria e espaço

Como os atributos de matéria e espaço não se aplicam a D'us, Ele naturalmente não possui aparência nem forma. Em hipótese alguma D'us pode ser um Ser físico, pois tudo o que é físico é feito de matéria e ocupa espaço Basicamente, é esta a razão pela qual D'us não pode ser visto. Quando D'us se revelou ao povo judeu no Monte Sinai, o povo apenas O ouviu, não O podendo ver. E, de fato, a Torá diz que os atributos físicos não se aplicam a D'us: "Guardai, pois, cuidadosamente as vossas almas, pois aparência nenhuma vistes no dia em que o Senhor vosso D’us vos falou, em Horeb (Sinai)" (Deuteronômio 4:15).

Surge, às vezes, confusão, pois a Bíblia parece indicar, em algumas passagens, que D'us tem atributos físicos e humanos e que vivencia mudanças. Um exemplo clássico disto é o verso da Torá que afirma que o homem foi criado à imagem de D'us (Gênese 1:26). No entanto, tal afirmação é apenas uma figura de retórica. Pois, como explicam nossos sábios, se a Torá deve ser compreensível ao homem - um ser finito que vive em um mundo físico finito - precisa, então, falar a linguagem dos homens (Berachot31a). Portanto, a Bíblia utiliza uma linguagem antropomórfica - atribuindo qualidades humanas a D'us - para que o homem possa, ao menos em parte, entender e relacionar-se com Ele. Assim sendo, ao invés de falar da Infinita Onisciência Divina, a Bíblia diz que os "olhos" de D'us estão em toda a parte e veem tudo o que se passa no mundo. Quando D'us se contém em aplicar a justiça severa, a Bíblia afirma que Ele "se tornou misericordioso", ou que "usou Sua mão direita". Quanto ao conceito de ter o homem sido criado à imagem de D'us, uma das inúmeras explicações para esse verso é que o homem foi criado com uma alma Divina que, como o Criador, é imortal e eterna.

Unicidade Divina

Há ainda um atributo de D'us de importância capital. É revelado no verso mais enfatizado da Torá: "Escuta, ó Israel, o Senhor é nosso D's, o Senhor é Um" (Deuteronômio 6:4). Tal verso, conhecido como o Shemá Israel, é a mais sagrada de todas as preces judaicas, porque revela o principal atributo Divino. O D'us de Israel é definido por Sua Unicidade. D'us e apenas Ele é a Fonte e o Criador de todos os seres animados e inanimados, espirituais e físicos. Não há outras divindades nem fontes independentes de poder no universo. A Torá nos diz: "Por isso hoje saberás, e refletirás no teu coração, que só o Senhor é D'us em cima no céu, e embaixo na terra; nenhum outro há". (Deuteronômio 4:39).
Até mesmo a Filosofia deixa claro que D'us necessariamente é UM, e que não pode haver dois Seres Onipotentes. Pois se um é mais poderoso que o outro, obviamente o menos forte não é onipotente. E se ambos são absolutamente iguais em poder, um pode refrear o outro, e, assim, nenhum dos dois é onipotente. Daí, pois, que só pode haver Um Ser Onipotente.

Todos os conceitos da moralidade dependem da Unicidade de D'us. Se D'us não fosse Uno, não haveria código universal de conduta e comportamento humano, nem um código único de Verdade e Justiça. É por este motivo que a Torá afirma que a idolatria - a crença de que existe mais do que um único D'us - equivale à negação de toda a Torá. Os Mandamentos Divinos só podem ser absolutos e supremos se Ele é reconhecido como sendo Uno e o Único Senhor e Juiz do universo.

A Bíblia assim se refere a D'us: "Porque o "Senhor Altíssimo é tremendo, é o grande Rei de toda a terra" (Salmos 47:2). Poderia parecer, como alguns indivíduos pensam erroneamente , que um D'us assim tão grandioso, que não pode ser visto e que é intemporal, fosse distante e inatingível. Acreditam , erroneamente como explicaremos mais adiante , que um D'us que criou todo um universo não poderia ou " não se interessaria em cuidar " dos seres humanos, muito menos de cada indivíduo em especial.

Um D'us pessoal

O primeiro dos Dez Ditos (Mandamentos) é a revelação Divina ao povo judeu. Está escrito: "Eu sou o Senhor teu D'us, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão" (Êxodo 20:2).

Alguns comentaristas indagam por que teria D'us estabelecido a Sua existência através do Êxodo, e não através do fato de que Ele criou e rege todo o universo. Por que D'us não teria dito: "Sou o Senhor teu D'us que criou e rege todo o universo"? Estes comentaristas respondem que se D'us Se tivesse revelado como o Criador do Universo, poderíamos pensar que D'us criou o mundo e seus habitantes, retirando-se e afastando-se, a seguir.

O primeiro dos Dez Ditos(Mandamentos) revela que D'us está profundamente envolvido com a Sua criação. É um D'us pessoal, como está escrito: "Perto está o Senhor de todos os que O invocam, de todos os que O invocam em verdade" (Salmos 145:18). Na Bíblia, o profeta Ezequiel fala contra aqueles que clamam que "O Senhor não nos vê, o Senhor abandonou a terra" (Ezequiel 8:12).

Mas é natural que se pergunte como iria um D'us que criou um universo inteiro preocupar-se com os seres humanos. O Rei David dirigiu esta mesma pergunta a D'us: "Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas que estabeleceste; que é o homem, mero mortal, para que dele te lembres? E o filho do homem para que o visites? (Salmos 8:3,4 ).

A resposta a esta e outras perguntas semelhantes é que D'us é Infinito. O Rabi Shneur Zalman de Liadi escreve em sua obra-prima cabalística, o Livro Tanya, que não há lugar algum no universo desprovido da presença Divina. Na linguagem da kabbalah, D'us é mencionado como o Ein-Sof - o Infinito, Aquele que não tem fim nem limite.

D'us não é limitado pela matéria, espaço ou tempo; e por ser Uno e Infinito, Ele está em todas as partes a todo o tempo. A infinidade é indivisível e sem dimensões nem limitações e, portanto, para um D'us Infinito, o grande e o pequeno são iguais em magnitude e relevância. Este D'us que olha por todas as galáxias e estrelas no firmamento é igualmente consciente e atento aos detalhes mais ínfimos na vida de cada uma das pessoas. D'us vê o que fazemos, ouve o que dizemos e sabe de tudo o que pensamos e sentimos. A Bíblia nos conta que: "O homem vê o exterior, porém o Senhor vê o coração" (Samuel 16:7). D'us alegra-se com nossos feitos, partilha de nosso júbilo e sente nosso sofrimento. Pois está escrito: "Ele Me invocará, e Eu lhe responderei; na sua angústia Eu estarei com ele..." (Salmos 91:15). Os sábios do Talmud usam a linguagem antropomórfica ao dizer que quando uma pessoa está em aflição, a Divina Presença está em aflição (Sanhedrin 6:5).

Apesar de D'us só se ter revelado no Sinai ao povo judeu, incumbindo-os de uma missão Divina, a Bíblia deixa claro que D'us é o Pai de todos os seres humanos (Malaquias 2:10). Juntamente com Sua Unicidade, D'us é definido, acima de tudo, por sua Bondade, Amor e Misericórdia Infinitas. Como está escrito: "Com amor Eterno Eu te amei..." (Jeremias 31:3). Em Sua Bondade Infinita, D'us concede Sua Providência e Sua Atenção a cada uma de Suas criaturas. Pois está dito: "Ele fez os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há, e mantém para sempre a sua fidelidade. Ele faz justiça aos oprimidos e dá pão aos que têm fome" (Salmos 146:6-7). Também está escrito: "O Senhor é bom para todos, e as Suas ternas misericórdias permeiam todas as suas obras" (Salmos 145:9).

Quanto ao povo judeu, D'us o chama o Seu primogênito, Sua glória, Seu tesouro, e uma nação de justos da qual se orgulha. O Baal Shem Tov, fundador do movimento Chassídico, ensina que D'us ama cada judeu mais do que os pais amam seu único filho, nascido em sua velhice. E este amor Divino é incondicional e se aplica a cada judeu, sem distinção. Maimônides escreveu que uma pessoa pode passar a vida em pecado, blasfemando contra D'us, mas Este sempre está pronto a aceitá-lo de volta e a lhe permitir um novo começo.

Maimônides inicia seu Código de Leis afirmando que o fundamento de todos os fundamentos é a existência de D'us. Encerra este Código falando de uma era em que o mundo inteiro estará ocupado apenas em conhecer os mistérios de D'us. Diz que será a época em que não haverá fome nem guerras, dificuldades nem sofrimento. A bondade fluirá em abundância e todas as benesses estarão disponíveis como o pó.

Esta época, conhecida como a Era Messiânica quando o Mashiach a emanação de D’us no mundo inferior virá, será a redenção suprema para toda a humanidade. Falando desta era, dizemos ao término de nossas preces diárias: "Naquele dia D'us será Um e Seu Nome será Um" (Zacarias 14:9). Nossos sábios fazem a seguinte pergunta: Não será D'us sempre Um, como o proclamamos no Shemá? Ao que respondem explicando que na redenção messiânica não veremos mais diferenças entre às vezes D'us que nos cobre de bondade e outras nos cobre de tristeza. Naquela época ficará claro que D'us apenas pratica o bem, e que tudo o que ocorre no mundo - mesmo o que é visto pelos homens como sendo ruim e doloroso - na realidade visa o próprio bem da humanidade.
O Rebe de Lubavitch costumava proclamar que esta época deixara de ser um sonho distante, e era uma iminente realidade. Perguntavam-lhe como ele podia antever tanta coisa boa para o futuro de uma era marcada por tanta maldade, especialmente com o povo judeu. O Rebe respondia que a hora mais escura é a que antecede a aurora. O Êxodo foi precedido pela escravidão. A mais intensa opressão de nossos antepassados no Egito ocorreu justamente antes de sua libertação.

Nossos sábios nos ensinam que a redenção suprema irá comparar-se à redenção de nosso povo da escravidão no Egito. Na Bíblia, D'us mesmo nos promete: "Eu te mostrarei maravilhas, como nos dias da tua saída da terra do Egito" (Miquéias 7:15). Será uma era de paz universal na qual a existência e a presença de D'us serão claras para todo o mundo. Não mais haverá idolatria nem interpretações errôneas sobre D'us Vivo e Verdadeiro. O mundo inteiro reconhecerá que o D'us de Israel é o Rei Único de todo o universo. E, naquele dia, toda a humanidade perceberá e proclamará que D'us é Um e Seu Nome Santificado é Um.
Shavuah tov!


Rav . Itzhak Levy.

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