O Retorno ao Judaísmo



PARÁGRAFO 1
פרק א’ הלכה א’: כָּל מִצְוֹת שֶׁבַּתּוֹרָה בֵּין עֲשֵׂה בֵּין לֹא תַּעֲשֶׂה אִם עָבַר אָדָם עַל אַחַת מֵהֶן בֵּין בְּזָדוֹן בֵּין בִּשְׁגָגָה כְּשֶׁיַּעֲשֶׂה תְּשׁוּבָה וְיָשׁוּב מֵחֶטְאוֹ חַיָּב לְהִתְוַדּוֹת לִפְנֵי הָאֵל בָּרוּךְ הוּא שֶׁנֶּאֱמַר (במדבר ה-ו) ’אִישׁ אוֹ אִשָּׁה כִּי יַעֲשׂוּ’ וְגוֹ’ (במדבר ה-ז) ’וְהִתְוַדּוּ אֶת חַטָּאתָם אֲשֶׁר עָשׂוּ’ זֶה וִדּוּי דְּבָרִים. וִדּוּי זֶה מִצְוַת עֲשֵׂה. כֵּיצַד מִתְוַדִּין. אוֹמֵר אָנָּא הַשֵּׁם חָטָאתִי עָוִיתִי פָּשַׁעְתִּי לְפָנֶיךָ וְעָשִׂיתִי כָּךְ וְכָךְ וַהֲרֵי נִחַמְתִּי וּבֹשְׁתִּי בְּמַעֲשַׂי וּלְעוֹלָם אֵינִי חוֹזֵר לְדָבָר זֶה. וְזֶהוּ עִקָּרוֹ שֶׁל וִדּוּי. וְכָל הַמַּרְבֶּה לְהִתְוַדּוֹת וּמַאֲרִיךְ בְּעִנְיָן זֶה הֲרֵי זֶה מְשֻׁבָּח. וְכֵן בַּעֲלֵי חַטָּאוֹת וַאֲשָׁמוֹת בְּעֵת שֶׁמְּבִיאִין קָרְבְּנוֹתֵיהֶן עַל שִׁגְגָתָן אוֹ עַל זְדוֹנָן אֵין מִתְכַּפֵּר לָהֶן בְּקָרְבָּנָם עַד שֶׁיַּעֲשׂוּ תְּשׁוּבָה וְיִתְוַדּוּ וִדּוּי דְּבָרִים שֶׁנֶּאֱמַר (ויקרא ה-ה) ’וְהִתְוַדָּה אֲשֶׁר חָטָא עָלֶיהָ’. וְכֵן כָּל מְחֻיְּבֵי מִיתוֹת בֵּית דִּין וּמְחֻיְּבֵי מַלְקוֹת אֵין מִתְכַּפֵּר לָהֶן בְּמִיתָתָן אוֹ בִּלְקִיָּתָן עַד שֶׁיַּעֲשׂוּ תְּשׁוּבָה וְיִתְוַדּוּ. וְכֵן הַחוֹבֵל בַּחֲבֵרוֹ וְהַמַּזִּיק מָמוֹנוֹ אַף עַל פִּי שֶׁשִּׁלֵּם לוֹ מַה שֶּׁהוּא חַיָּב לוֹ אֵינוֹ מִתְכַּפֵּר עַד שֶׁיִּתְוַדֶּה וְיָשׁוּב מִלַּעֲשׂוֹת כָּזֶה לְעוֹלָם שֶׁנֶּאֱמַר (במדבר ה-ו) ’מִכָּל חַטֹּאת הָאָדָם’:

Explicação e Comentários sobre as Halachot de Teshuvá do Rambam[16]
Maimônides, o Rambam, Rabi  Moshê ben  Maimon, (4895–4965), dedicou parte de sua grande obra “Mishnê Torá ” às leis de teshuvá, à qual chamou de “Hilchot Teshuvá ”.
No início destas leis, o Rambam escreveu: “Todas as mitsvot  da Torá  – sejam elas das 248 mitsvot  ativas (positivas) ou das 365 passivas (proibitivas) – caso a pessoa tenha transgredido qualquer uma delas, quer de forma voluntária, quer involuntária (“beshogueg ”, ou seja, por desconhecer a proibição ou, por deixar de cumpri-la, sem querer),  quando ela fizer teshuvá  e se arrepender pelo pecado cometido, é obrigada a confessar perante Hashem sua averá (transgressão) . O homem ou a mulher que cometer qualquer tipo de pecado deve fazer Viduy  (confessar verbalmente o erro cometido). Aprendemos isso no Sêfer Vayicrá, onde a Torá  prevê que alguém que tenha pecado de forma involuntária é obrigado a trazer um corban  e fazer uma confissão diante de Hashem .

Viduy de acordo com o Rambam – mitsvat assê
Essa confissão diz respeito aos pecados cometidos pelo homem com relação a Hashem . Assim, trata-se de uma das mitsvot assê  (ativas, positivas) entre o homem e Hashem . Ninguém deve saber sobre essa confissão, pois o ocorrido concerne apenas a Hashem  e à pessoa. A única exceção é se o indivíduo quiser se aconselhar com um rav  para saber qual o processo de teshuvá  indicado para determinado pecado. Nos casos de pecados entre o homem e seu semelhante, os procedimentos serão estudados mais adiante.
Rambam vai mais além e dá detalhes de como fazer esse Viduy  (confissão verbal) dos pecados cometidos. É preciso proferir as palavras: “Ana, Hashem chatáti, avíti, pasháti Lefanecha...”  – Por favor, Hashem, pequei de forma involuntária (chatáti )[17], de forma proposital (avíti ) e com rebeldia (pasháti ) diante de Ti (Lefanecha ). Depois, deve detalhar seus pecados a Hashem,  e somente a Ele: “Veassiti cach vecach”  (detalhar o pecado). Ele se confessa arrependido e envergonhado de suas atitudes: “veharê nichámti uvôshti bemaassay”.  E se compromete a não repetir sua falta: “ul’olam eni chozer ledavar zê”.  Desta forma, realizamos os três itens principais da teshuvá : arrependimento, confissão e comprometimento para o futuro.
Na nossa literatura, há um livro também muito importante sobre teshuvá, chamado “Shaarê Teshuvá”  (Portais do Arrependimento), do Rabênu  Yoná ben  Avraham Guirondi (da cidade de Gerona ou Gerunda) zt”l  (4940–5024)[18]. Trata-se de uma obra indispensável a ser estudada. Embora seu tema central seja a teshuvá, o livro vai além e esclarece, de forma geral, grande parte das mitsvot  – cada uma delas, sua importância e gravidade. Ao estudarmos os escritos de Rabênu  Yoná, vemos que há outros conceitos ligados à teshuvá.  Mas, nesta obra do Rambam, vamos nos ater aos três itens principais desse processo, citados acima: arrependimento, confissão e comprometimento.
Arrependimento: Primeiramente, é necessário que a pessoa se arrependa. Parece óbvio que, se ela não se arrepender sobre o que fez, não haverá teshuvá .
Confissão: Trata-se de declarar o Viduy, confessar verbalmente seus erros perante Hashem .
Comprometimento: É necessário que a pessoa receba sobre si o compromisso de não repetir seu erro futuramente.
Em sua obra, Rabênu  Yoná faz uma analogia muito interessante para explicar como se “limpa” um pecado realizado: suponhamos que alguém tenha uma camisa branca, que manchou. Seu dono a coloca na água, mas a mancha não sai totalmente, a não ser que acrescente um pouco de alvejante ou produto similar. Só desta forma poderá limpá-la completamente. Assim acontece com o pecado: necessitamos cumprir os vários itens da teshuvá  para que ele seja apagado completamente.
Mas como se consegue extinguir a mancha de um pecado se, afinal, ele existiu efetivamente?
Cada vez que cumprimos uma mitsvá, criamos um anjo protetor. De forma análoga, ao praticar uma averá  (um pecado), damos origem a um anjo promotor (acusador). Obviamente que estamos nos referindo a uma existência espiritual, imaterial[19].
Sendo assim, como conseguimos apagar um pecado completamente, incluindo a anulação do anjo acusador proveniente da infração? Segundo Rabênu  Yoná, a chave para isso está no yagon  (pesar) que a pessoa sente por ter cometido esse pecado. Quanto maior o pesar, a amargura pelo erro, mais fácil de apagar o pecado do mundo.
É importante frisar que yagon  é muito diferente de tristeza. Essa, por sua vez, não leva a lugar algum. É possível e correto que a pessoa sinta pesar, mas não tristeza. Com a tristeza, a pessoa fica desmotivada, sem força para fazer teshuvá .
Prova disso é que, quando Cáyin teve a iniciativa de fazer uma oferenda a Hashem, ele não trouxe do melhor que possuía. Notando isso, Hashem  não aceitou sua oferenda, mas sim, a de seu irmão, que havia se esmerado e trazido oferendas das primícias e do melhor que tinha para Hacadosh Baruch Hu . Cáyin se mostra abalado com a rejeição de Hashem . Então, Hashem  pergunta a Cáyin: “Por que você está nervoso? E por que seu rosto esmoreceu? Por que está cabisbaixo? Se você fizer teshuvá, vai se elevar. Você tem de ficar contente, pois seu irmão fez uma boa oferenda!”.
Por isso, é preciso ter yagon  (pesar) diante de uma averá, mas nunca tristeza[20].
Rambam nos diz que há três itens na teshuvá : arrepender-se sobre o cometido, fazer Viduy,  confessar diante de Hashem  – e unicamente diante Dele – nossos pecados, e receber sobre si o comprometimento de não repetir a falta no futuro. Segundo o Rambam, essa é a essência do Viduy : o arrependimento, declarar o Viduy propriamente dito e o compromisso de não cometer o erro novamente.

Teshuvá sobre pecados involuntários
Segundo o Rambam, todos os que traziam ao Bêt Hamicdash  o corban chatat, sobre pecados involuntários, ou o corban  asham, não eram perdoados até que fizessem teshuvá  e Viduy  (confissão). O Rambam prova isso do passuk em Vayicrá  (5:5): “Vehitvadá asher chatá aleha”  (...e deve confessar o pecado que cometeu).
Em sua obra “Sháar Haguemul”  (cap. 2), o Ramban[21] destaca dois motivos por que se faz necessária a teshuvá  sobre pecados involuntários: primeiramente, porque se a pessoa estivesse atenta e temesse as palavras de Hashem, teria maior atenção. Em segundo lugar, todos os pecados, mesmo os involuntários, causam uma mancha na alma sendo, portanto, necessária a teshuvá  sobre eles. Na época em que existia o Bêt Hamicdash  havia certos tipos de pecados passíveis de penas capitais ou chicotadas previstas pela Torá[22]  (vide nota de rodapé). 
Estas penas eram estabelecidas após julgamento do bêt din,  o tribunal rabínico. O bêt din  procedia a uma averiguação extremamente profunda e minuciosa, mediante interrogatório e o depoimento imprescindível de ao menos duas testemunhas qualificadas para chegar à conclusão de que o erro foi realmente cometido. A teshuvá  e oViduy  não o livram da pena aplicada pelo bêt din  e, por outro lado, a pena infligida também não é suficiente para que o pecado seja perdoado. É preciso que o infrator faça teshuvá,  Viduy  e, depois, receba a pena determinada.

Baasher hu sham
É importante esclarecer que, a partir do momento que a pessoa se compromete a não cometer novamente um pecado, isso não significa que ela está fazendo uma “promessa”, com o risco de quebrá-la e, portanto, podendo lhe causar graves danos. Hashem  julga a pessoa no momento presente, não por suas futuras e prováveis faltas.
No Sêfer Bereshit  (21: 9-19), há um episódio que ilustra muito bem o conceito de que Hashem  julga a pessoa no momento exato de sua teshuvá, e não pelos atos que ainda poderá cometer (vide Massêchet Rosh Hashaná  16b)[23]. Quando Avraham, a pedido de Sará, expulsa Hagar e seu filho Yishmael, por ele estar apresentando um mau comportamento, tornando-se uma influência má para Yitschak, ela e o menino saem vagueando pelo deserto. A água acaba e Yishmael é acometido por uma febre alta. Naquele momento, Yishmael reza a Hashem [24] e Ele o atende, salvando-o da morte. No Céu, alguns anjos protestaram contra a intenção deHashem, de atender às preces de Yishmael, argumentando que, no futuro, os descendentes de Yishmael matariam, cruelmente, os judeus de sede. Hashem  respondeu-lhes que, naquele momento, Yishmael era considerado íntegro e deveria ser julgado como tal.

Não fazer teshuvá pensando em pecar
Da mesma forma que não se pode cometer uma averá  pensando em fazer teshuvá  posteriormente sobre ela e, assim, obter o perdão, também não se pode fazer teshuvá  pensando em pecar depois. Nestes dois casos, a teshuvá  não será aceita. Mas, se a teshuvá  for verdadeira e sincera e, mesmo assim, a pessoa cometer a mesmaaverá, indo contra seu comprometimento de não repetir o erro, se seu arrependimento e seu pesar forem honestos, ela será perdoada novamente. A teshuvá  será considerada válida.
Vale lembrar que a teshuvá  deve ser feita, até mesmo sobre ações involuntárias, sobre atos dos quais nem temos plena consciência (beshogueg ). Esse tipo de teshuvá  deve ser realizado também, porque pode corrigir um erro praticado, supostamente, em outra encarnação, e pelo qual se está aqui apenas para retificá-lo.
No texto do Viduy, por exemplo, está escrito que o indivíduo mentiu. Uma pessoa pode nunca ter mentido, mas não deve deixar de dizê-lo no Viduy, pois não tem condições de saber se em outra vida cometeu esse erro, ou qualquer outro mencionado no Viduy, e não fez teshuvá  sobre ele. Deve recitar o Viduy  completo, mesmo que tenha plena certeza de nunca ter cometido determinada falta nesta encarnação.
Além do mais, muitas vezes, pelos nossos conceitos, uma ação não é um pecado, mas pelo enfoque da Torá, trata-se de uma transgressão. Isso ocorre porque não conhecemos profundamente cada mitsvá  e seus inúmeros detalhes.
Mencionamos anteriormente que todas as almas da humanidade estavam vinculadas a Adam Harishon . Alguém pode, portanto, garantir que sua alma não o instigou a provar do fruto proibido? Assim, é importante estar ciente ao dizer o Viduy  que, embora não se lembre, possa, sim, ter praticado algumas das faltas mencionadas nele.
No “Ben Ish Chay ” (Parashat Ki Tissá ), também consta que devemos citar todos os itens do Viduy, pois em nosso povo cada indivíduo é responsável pelo outro e, principalmente, no que diz respeito à possibilidade de advertir o semelhante a não pecar. Assim, deve-se fazer Viduy  sobre um pecado que não se cometeu, pois outroyehudi  pode tê-lo cometido e, afinal, somos responsáveis uns pelos outros ( vide na tradução do Viduy,  no fim do livro, a citação por completo do Ben Ish Chay  em nome do livro Chêssed Laalafim ).

Quando a averá é com o próximo

Rav  Shalom Cohen Shelita,  Rosh Yeshivá  da Yeshivat Porat Yossef, em Jerusalém, cita: “Para a pessoa se conciliar com Hashem  é fácil; entender-se com as demais pessoas é mais difícil”[25].
Por isso, quem lesou, feriu ou causou algum dano material a seu semelhante, mesmo que já tenha arcado com todos os prejuízos que possa ter provocado, só será efetivamente perdoado se pedir perdão, fizer teshuvá, disser Viduy  e se comprometer que não cometerá o mesmo erro novamente. Neste caso, ele também deverá pedir perdão para a pessoa prejudicada (diferentemente das averot  praticadas contra Hashem, que só devem ser confessadas a Ele, como mencionado anteriormente).
Na impossibilidade de o infrator arcar com um eventual prejuízo monetário causado a alguém, se o seu perdão for sincero, é preciso perdoá-lo mesmo assim, já que naquele momento específico ele não tem condições monetárias para ressarcir o prejudicado. E, pela Torá, é proibido cobrar alguém que não tem meios para saldar uma dívida. Mas, pode-se perdoá-lo naquele momento, reservando-se o direito de cobrá-lo no dia em que, eventualmente, ele tenha a quantia necessária para cobrir o prejuízo.
Esse precedente pode ser visto na “Tefilá Zacá ”[26], recitada por muitos antes de Arvit  de Yom Kipur . Trata-se de um tipo de Viduy  mais detalhado, semelhante ao poema “Lecha Eli Teshucati ”[27], que os sefaradim  costumam ler na mesma ocasião. Há algumas pessoas que recitam ambos os textos (vide Capítulo 2, parágrafo 9).

PARÁGRAFO 2
פרק א’ הלכה ב’: שָׂעִיר הַמִּשְׁתַּלֵּחַ לְפִי שֶׁהוּא כַּפָּרָה עַל כָּל יִשְׂרָאֵל כֹּהֵן גָּדוֹל מִתְוַדֶּה עָלָיו עַל לְשׁוֹן כָּל יִשְׂרָאֵל שֶׁנֶּאֱמַר (ויקרא טז-כא) ’וְהִתְוַדָּה עָלָיו אֶת כָּל עֲוֹנֹת בְּנֵי יִשְׂרָאֵל’. שָׂעִיר הַמִּשְׁתַּלֵּחַ מְכַפֵּר עַל כָּל עֲבֵרוֹת שֶׁבַּתּוֹרָה, הַקַּלּוֹת וְהַחֲמוּרוֹת, בֵּין שֶׁעָבַר בְּזָדוֹן בֵּין שֶׁעָבַר בִּשְׁגָגָה, בֵּין שֶׁהוֹדַע לוֹ בֵּין שֶׁלֹּא הוֹדַע לוֹ, הַכּל מִתְכַּפֵּר בְּשָׂעִיר הַמִּשְׁתַּלֵּחַ. וְהוּא שֶׁעָשָׂה תְּשׁוּבָה. אֲבָל אִם לֹא עָשָׂה תְּשׁוּבָה אֵין הַשָּׂעִיר מְכַפֵּר לוֹ אֶלָּא עַל הַקַּלּוֹת. וּמַה הֵן הַקַּלּוֹת וּמַה הֵן הַחֲמוּרוֹת. הַחֲמוּרוֹת הֵן שֶׁחַיָּבִין עֲלֵיהֶם מִיתַת בֵּית דִּין אוֹ כָּרֵת. וּשְׁבוּעַת שָׁוְא וָשֶׁקֶר אַף עַל פִּי שֶׁאֵין בָּהֶן כָּרֵת הֲרֵי הֵן מִן הַחֲמוּרוֹת. וּשְׁאָר מִצְוֹת לֹא תַּעֲשֶׂה וּמִצְוֹת עֲשֵׂה שֶׁאֵין בָּהֶן כָּרֵת הֵם הַקַּלּוֹת:

Mitsvot calot e mitsvot chamurot[28]
Na Parashat Acharê Mot  do Sêfer Vayicrá, lida também na manhã de Yom Kipur, estão relatados os serviços do cohen gadol  no Bêt Hamicdash  no Yom Kipur . Um deles era o de fazer Viduy  em nome de todo o povo (como vimos no Capítulo anterior, um dos três itens da teshuvá  é a confissão verbal do erro perante Hashem ). Outra incumbência era a de tomar dois bodes e sortear entre ambos qual seria ofertado como corban  para Hashem  e qual seria enviado ao deserto, para o Azazel  – para ser atirado em direção a um abismo – como expiação dos pecados de Am Yisrael.
Mas quais eram os pecados expiados por meio deste animal, também chamado de sa’ir hamishtaleach  (literalmente, bode expiatório)? O Rambam explica que os pecados expiados pelo sa’ir hamishtaleach  são de dois tipos: calot  e chamurot .
No Pirkê Avot  (cap. 3, mishná  1) consta o seguinte: “Seja cauteloso com mitsvot calot  (menos graves) tanto quanto com mitsvot chamurot  (mais graves), pois não se sabe qual a recompensa para cada uma delas”.
Um exemplo de mitsvá chamurá [29] é a de kibud av vaem  (honrar e respeitar os pais). Já uma mitsvá calá  é a de shiluach haken . Esta mitsvá  
consiste no seguinte: caso se encontre um ninho de pássaros no qual a ave (tehorá)  está chocando seus ovos ou sentada sobre seus filhotes, deve-se primeiramente afugentá-la para, só então, pegar os ovos ou os filhotes. A recompensa para o cumprimento de ambas as mitsvot  é a mesma: “vida longa”[30].
A mitsvá calá  é aquela cuja não observância não acarretará numa das penas capitais previstas na Torá [31]: sekilá  (apedrejamento), serefá  (ser queimado engolindo chumbo quente), hereg  (decapitação) e chenek  (estrangulamento), bem como caret  (morte espiritual[32]). Já a transgressão de uma mitsvá chamurá, por ser mais grave, causará, invariavelmente, uma destas penalidades capitais.
O Rambam explica, portanto, que o sa’ir hamishtaleach  expiava pelo não cumprimento das mitsvot calot  e chamurot ; ou seja, tanto as menos quanto as mais graves, praticadas de modo propositado (bemezid ) ou involuntário (beshogueg ), tendo o pecador conhecimento da falta ou não. Assim, toda averá  era perdoada pelo sa’ir hamishtaleach  depois de o cohen gadol  ter feito o Viduy  em nome de todo o Povo de Israel. Mas, para que o sa’ir hamishtaleach  seja considerado como uma capará  para todos os pecados, fazia-se necessária uma condição indispensável: a teshuvá  sincera de todo 
Am Yisrael.
O Rambam explica o que acontecia se alguém do povo não tivesse feito teshuvá  até o cohen gadol  recitar o Viduy  e enviar o sa’ir hamishtaleach . Neste caso, observa o Rambam, esta pessoa só seria perdoada por suas transgressões das mitsvot calot  (menos graves), mas não das chamurot  (mais graves).
Eis alguns exemplos de mitsvot chamurot : praticar idolatria, transgredir o Shabat  propositadamente, comer chamets  em Pêssach, não jejuar em Yom Kipur  e manter relações proibidas, incluindo aquelas entre o homem e sua esposa antes de a mesma ter ido ao micvê . A punição para transgressões como essas é uma das quatro penas capitais descritas na Torá  ou caret .
Sobre as mitsvot chamurot,  o Rambam acrescenta algo importante, extraído do Talmud  em Massêchet Yomá  (85b). Este tratado é voltado a assuntos ligados ao Yom Kipur,  relacionando o trabalho do cohen gadol  no Bêt Hamicdash, as proibições da data e o conceito de teshuvá,  entre outros assuntos. Nele, está escrito que quem jura em vão ou em falso incorre em uma transgressão chamurá, ainda que essa averá  não acarrete uma das penas capitais ou o carêt . E qual a razão desta classificação tão grave para esse tipo de falta?
Segundo nossos chachamim, quando Hashem  anunciou o terceiro mandamento, “Não pronuncie o nome de Hashem  em vão”, todo o mundo estremeceu[33]. Nossos sábios concluíram que jurar em vão está entre as transgressões de mitsvot chamurot.
Aliás, jamais se deve jurar, ainda que não seja em nome de Hashem, pois, mesmo assim, o juramento tem valor e compromete a pessoa.
Todas as mitsvot  com penas capitais estão entre as 365 mitsvot lô taassê  (passivas, proibitivas). As mitsvot  com pena de caret  também estão, praticamente todas, entre as 365 mitsvot lô taassê.  De todas as 248 mitsvot assê  (ativas, positivas), nenhuma recebe como punição penas capitais, e apenas duas delas são passíveis de caret . As duas mitsvot  assê  sujeitas à pena de caret  são as seguintes: um homem que morreu sem ter feito Berit Milá  (circuncisão) propositadamente[34] e as pessoas que intencionalmente não participavam do Corban Pêssach  na época do Bêt Hamicdash [35].

PARÁGRAFO 3
פרק א’ הלכה ג’: בַּזְּמַן הַזֶּה שֶׁאֵין בֵּית הַמִּקְדָּשׁ קַיָּם וְאֵין לָנוּ מִזְבַּח כַּפָּרָה אֵין שָׁם אֶלָּא תְּשׁוּבָה. הַתְּשׁוּבָה מְכַפֶּרֶת עַל כָּל הָעֲבֵרוֹת. אֲפִלּוּ רָשָׁע כָּל יָמָיו וְעָשָׂה תְּשׁוּבָה בָּאַחֲרוֹנָה אֵין מַזְכִּירִין לוֹ שׁוּם דָּבָר מֵרִשְׁעוֹ שֶׁנֶּאֱמַר (יחזקאל לג-יב) ’רִשְׁעַת הָרָשָׁע לֹא יִכָּשֶׁל בָּהּ בְּיוֹם שׁוּבוֹ מֵרִשְׁעוֹ’. וְעַצְמוֹ שֶׁל יוֹם הַכִּפּוּרִים מְכַפֵּר לַשָּׁבִים שֶׁנֶּאֱמַר (ויקרא טז-ל) ’כִּי בַיּוֹם הַזֶּה יְכַפֵּר עֲלֵיכֶם’:

O que fazer sem o Bêt Hamicdash?
Nos nossos dias, infelizmente, sofremos pela ausência do Bêt Hamicdash .  Sendo assim, não temos o altar para fazer a capará  com o sa’ir Lashem  (o “bode para Hashem” ); não há um Cohen Gadol,  o sa’ir hamishtaleach  ou o Viduy  coletivo. Restou-nos, então, “apenas” a teshuvá  sincera.
Como explicado anteriormente, para que a teshuvá  seja aceita, são necessárias três condições mínimas: arrependimento pelo passado, confissão individual para Hashem  (Viduy ) e receber sobre si o comprometimento de nunca mais repetir o pecado[36].
Um detalhe curioso, ligado à expiação das averot, pode ser encontrado em Hilchot Bêt Habechirá[37]  (Capítulo 2, parágrafo 2), escritas pelo Rambam. Ali, ele nos diz que a localização do mizbeach  (altar) é extremamente precisa, determinada, inalterável. Neste lugar, Avraham Avínu  fez a akedá  de Yitschak ; Noach, ao sair da arca, ofereceu um sacrifício a Hashem ; Cáyin e Hêvel deixaram ali suas oferendas, e foi também neste ponto exato que Adam Harishon  ofereceu um corban  a Hashem . Foi deste local, onde o mizbeach  foi erguido, que Hashem  retirou a terra para criar Adam Harishon  e, por isso, é deste exato lugar, onde o primeiro homem foi criado, que todo homem obtém perdão para suas transgressões. Interessante que o Rambam cita os casos em ordem regressiva (Akedat Yitschak, Noach, Cáyin, Hêvel e Adam Harishon ) e não na ordem cronológica progressiva (Adam, Cáyin, Noach, etc.). Provavelmente, o motivo é que, dentre todos esses sacrifícios, a Akedat Yitschak  foi o mais importante. Prova é que nosso povo desfruta dos méritos dela até hoje. No Mussaf  de Rosh Hashaná  recitamos: “Vaakedat Yitschak hayom lezar’ô tizcor ” (e a Akedá de Yitschak  lembre hoje para seus descendentes). Além disso, todos os dias, no início de tefilat Shacharit –  antes de dizer Parashat Haakedá – pedimos para Hashem  que nos lembre para o bem (no trecho que começa com Elokênu Velokê avotênu zochrênu bezichron tov milefanêcha ). Entre nossos pedidos para Hashem, solicitamos que Ele lembre Akedat Yitschak : “Veet haakedá sheacad et Yitschak benô al gabê hamizbeach cacatuv Betoratach ”.

Sempre tem conserto
Diz o Rambam em Hilchot Teshuvá  que alguém que foi rashá  (pecador) durante toda sua vida, mas fez teshuvá  e Viduy  – a confissão a Hashem  é imprescindível, em qualquer caso, até em averot beshogueg, cometidas sem intenção ou por falta de conhecimento – nos últimos instantes de sua existência, a partir deste momento, ele não deve ser lembrado por nenhum de seus pecados. E o mal que o rashá  fez não será obstáculo perante ele no dia de sua teshuvá [38]. Mas, como há níveis diferentes de teshuvá, segundo explica o Rambam e Rabênu  Yoná Guirondi zt”l, este tipo de arrependimento não é tão valioso e querido por Hashem  quanto aquele feito quando ainda se é jovem, em pleno vigor da vida[39].
O Yom Kipur  tem a propriedade de perdoar quem fez teshuvá ; mas não é preciso esperar a sua chegada. No momento em que a pessoa peca e se arrepende do fato, está mais do que permitida a fazer Viduy  e teshuvá  sincera. Isso evita que ela acabe se esquecendo de alguma infração. Por esta razão, o Viduy  de Yom Kipur  é extenso e lista diversos pecados, alguns até esquecidos por quem os cometeu.
Além disso, no Rosh Hashaná, antes de tekiat shofar  (o toque do shofar ), costumamos ler sete vezes o pêrek 47  do Tehilim, que cita os filhos de Côrach. Isso para nos lembrar de que, mesmo aqueles como os filhos de Côrach, que estavam imersos em pecado, têm a possibilidade de se erguer e fazer teshuvá, em qualquer momento. Mas, quanto antes, melhor (livro Dalyot Yechezkel )[40].
O Talmud  (Shabat  153a) conta que Rabi  Eliêzer dizia a seus alunos: “Façam teshuvá  um dia antes de morrer”. E eles perguntavam: “Mas como podemos saber quando será este momento?”. “Vocês nunca saberão o dia em que morrerão. Portanto, façam teshuvá  todos os dias de suas vidas”, respondia o sábio[41].

PARÁGRAFO 4
פרק א’ הלכה ד’: אַף עַל פִּי שֶׁהַתְּשׁוּבָה מְכַפֶּרֶת עַל הַכּל וְעַצְמוֹ שֶׁל יוֹם הַכִּפּוּרִים מְכַפֵּר. יֵשׁ עֲבֵרוֹת שֶׁהֵן מִתְכַּפְּרִים לִשְׁעָתָן וְיֵשׁ עֲבֵרוֹת שֶׁאֵין מִתְכַּפְּרִים אֶלָּא לְאַחַר זְמַן. כֵּיצַד. עָבַר אָדָם עַל מִצְוַת עֲשֵׂה שֶׁאֵין בָּהּ כָּרֵת וְעָשָׂה תְּשׁוּבָה אֵינוֹ זָז מִשָּׁם עַד שֶׁמּוֹחֲלִין לוֹ, וּבְאֵלּוּ נֶאֱמַר (ירמיה ג-כב) ’שׁוּבוּ בָּנִים שׁוֹבָבִים אֶרְפָּה מְשׁוּבֹתֵיכֶם’ וְגוֹ’. עָבַר עַל מִצְוַת לֹא תַּעֲשֶׂה שֶׁאֵין בָּהּ כָּרֵת וְלֹא מִיתַת בֵּית דִּין וְעָשָׂה תְּשׁוּבָה, תְּשׁוּבָה תּוֹלָה וְיוֹם הַכִּפּוּרִים מְכַפֵּר, וּבְאֵלּוּ נֶאֱמַר (ויקרא טז-ל) ’כִּי בַיּוֹם הַזֶּה יְכַפֵּר עֲלֵיכֶם’. עָבַר עַל כְּרֵתוֹת וּמִיתוֹת בֵּית דִּין וְעָשָׂה תְּשׁוּבָה, תְּשׁוּבָה וְיוֹם הַכִּפּוּרִים תּוֹלִין וְיִסּוּרִין הַבָּאִין עָלָיו גּוֹמְרִין לוֹ הַכַּפָּרָה. וּלְעוֹלָם אֵין מִתְכַּפֵּר לוֹ כַּפָּרָה גְּמוּרָה עַד שֶׁיָּבוֹאוּ עָלָיו יִסּוּרִין, וּבְאֵלּוּ נֶאֱמַר (תהילים פט-לג) ’וּפָקַדְתִּי בְשֵׁבֶט פִּשְׁעָם וּבִנְגָעִים עֲוֹנָם’. בַּמֶּה דְּבָרִים אֲמוּרִים בְּשֶׁלֹּא חִלֵּל אֶת הַשֵּׁם בְּשָׁעָה שֶׁעָבַר אֲבָל הַמְחַלֵּל אֶת הַשֵּׁם אַף עַל פִּי שֶׁעָשָׂה תְּשׁוּבָה וְהִגִּיעַ יוֹם הַכִּפּוּרִים וְהוּא עוֹמֵד בִּתְשׁוּבָתוֹ וּבָאוּ עָלָיו יִסּוּרִין אֵינוֹ מִתְכַּפֵּר לוֹ כַּפָּרָה גְּמוּרָה עַד שֶׁיָּמוּת. אֶלָּא תְּשׁוּבָה יוֹם הַכִּפּוּרִים וְיִסּוּרִין שְׁלָשְׁתָּן תּוֹלִין וּמִיתָה מְכַפֶּרֶת שֶׁנֶּאֱמַר (ישעיה כב-יד) ’וְנִגְלָה בְאָזְנָי ה’ צְבָאוֹת’ וְגוֹ’ (ישעיה כב-יד) ’אִם יְכֻפַּר הֶעָוֹן הַזֶּה לָכֶם עַד תְּמֻתוּן’:

Diferentes tipos de teshuvá
Além de seus três itens elementares (arrependimento, Viduy  e o comprometimento de não repetir a falta cometida), a teshuvá  possui muitos outros detalhes primordiais; por exemplo, o yagon  (pesar) profundo pela transgressão. É este sentimento que, de fato, segundo Rabênu  Yoná[42], irá apagar o pecado deste mundo, conforme esclarecemos anteriormente (no parágrafo 1). E o pesar (não a tristeza) deve acompanhar o indivíduo a vida inteira, como diz David Hamêlech, no passuk  (Tehilim  51:5): “Vechatati negdi tamid ” (E o meu pecado está perante os meus olhos sempre).
A teshuvá  pode ser classificada em quatro tipos (arbaá chilukê capará ):
1. Diz o Rambam: “Apesar de a teshuvá  perdoar sobre todos os pecados e o próprio Yom Kipur  ter a característica de perdoar, há averot  que são perdoadas imediatamente, enquanto outras somente serão expiadas depois de um tempo”. Uma pessoa que transgride uma mitsvat assê  que não tem como punição carêt, faz teshuvá  e é perdoada imediatamente. Sobre esses pecados, está escrito no Tanach : “Shuvu banim shovavim erpá meshuvatchem ” - Voltem, filhos perversos, perdoarei os vossos pecados[43]. Este é o primeiro tipo de capará  (expiação). Um exemplo disso é o caso de um homem que transgride, por um dia, a mitsvat assê  de colocartefilin . Assim que ele se arrepende e faz teshuvá, é imediatamente perdoado.
2. No caso de a pessoa transgredir uma das 365 mitsvot lô taassê  (passivas, proibitivas) que não implique em punição de carêt  ou uma das quatro penas capitais descritas na Torá, e fizer teshuvá, ela não será perdoada imediatamente. O indivíduo só obterá o perdão se persistir em sua teshuvá  até o próximo Yom Kipur . Este é o segundo tipo de capará . Um exemplo disso é o caso de alguém que ingeriu, lô alênu, um pedaço de carne taref  (não casher ) sem sebo[44] e fez teshuvá . Seu perdão só virá se ele persistir na teshuvá  até o Yom Kipur . A este tipo de capará, está relacionado o passuk[45] : “Ki vayom hazê yechaper alechem ” - E, neste dia,Hashem  perdoará vocês.
3. Na hipótese de se transgredir uma das duas mitsvot assê[46]  cuja pena é caret, ou uma das mitsvot lô taassê  com pena de caret  ou uma das quatro penas capitais descritas na Torá, tanto a teshuvá  quanto o perdão de Yom Kipur  ficarão suspensos até que a pessoa receba algum tipo de sofrimento.
A Guemará  define “sofrimento”, neste caso, até mesmo quando alguém tenta tirar duas moedas do bolso, mas só encontra uma, ou quando veste uma roupa e, depois de fazê-lo, percebe que ela está do lado avesso, sendo obrigada a vestir-se novamente. Quando tiver passado por sofrimentos e a pessoa mantiver a teshuvá  até oYom Kipur, ela será perdoada.
Assim, devemos acatar e aceitar as dificuldades do dia a dia de bom grado, como issurim beahavá, ou seja, sofrimentos que vêm de Hashem  na medida perfeita, para alertar-nos sobre faltas cometidas (lashon hará, em cashrut, em taharat hamishpachá, em guardar o Shabat,  etc.).
Esses problemas podem ser desde pequenos sinais, como um objeto que cai (ou quase cai) de nossas mãos ao chão, ou grandes, como doenças, lô alênu . Somente cabe à própria pessoa fazer uma autorreflexão sobre esses issurim . Ninguém está apto a dizer que um sofrimento veio sobre o outro por determinada falta. A pessoa não deve se alterar com esses problemas, mas sim usá-los para seu próprio aperfeiçoamento. Este é o terceiro tipo de capará . A este tipo de teshuvá, está ligado o passuk : “Ufacadti veshêvet pish´am uvingaim avonam ” – sem sofrimento, não se encontra perdão (Tehilim  89:33).

 Chilul Hashem: sem saída?
A quarta classificação para a capará  (perdão) é aquela feita para a transgressão que envolve chilul Hashem  (profanação do Nome de Hashem ). Trata-se de uma averá  cometida por alguém diante de dez yehudim  ou que dez yehudim  tenham ciência deste fato[47]. Por exemplo: um indivíduo que usa o carro no Shabat  e é visto por dez yehudim  (simultaneamente ou não) cometendo essa averá . Esta transgressão entra na categoria de chilul Hashem .
Esse tipo de averá  é o mais difícil para se fazer teshuvá . Ainda que a pessoa faça teshuvá  e a mantenha, passe por sofrimentos e chegue o Yom Kipur, ou seja, atinja todos os estágios necessários para o perdão (capará ), este só será recebido no dia de sua morte. A remissão da culpa só acontecerá mediante seu falecimento e, ainda assim, somente se ela conseguir manter sua teshuvá  até essa data.
Entretanto, de acordo com Rabênu  Yoná Guirondi zt”l, em sua obra “Shaarê Teshuvá ” (Portais da Teshuvá ), há a possibilidade de se conseguir consertar, ainda em vida, o chilul Hashem  cometido. Fazendo Kidush Hashem  (santificando o Nome de Hashem ).
Tomando o exemplo acima, do indivíduo que usou o carro no Shabat  e foi flagrado por dez yehudim . Para obter o perdão, ainda em vida, ele deverá passar por todas as etapas da teshuvá,  Yom Kipur, eventuais sofrimentos e andar, prazerosamente, a pé nos próximos Shabatot  de sua vida. Assim, os yehudim  poderão testemunhar, também com os próprios olhos, como ele conseguiu vencer a situação anterior.
A segunda colocação é feita pelo Chidá[48], Rabi  Chayim Yossef David Azulay, citada no livro “Benê Yissachar ”[49] (maamar  14, chôdesh tishrê, parágrafo 39). Nele, seu autor, Rabi  Tsevi Elimêlech Shapira zt”l [50], afirma, em nome do Chidá que, ainda que a pessoa tenha cometido chilul Hashem, se fizer teshuvá meahavá (por amor a Hashem ), e não meyir´á  (por temor) a Hashem, será perdoada ainda em vida[51]. E “Benê Yissachar ” acrescenta: Não dá para concluir do Talmud  essa colocação do Chidá, mas, se ele afirmou, certamente o Tribunal Celestial concorda com ele52.
O[52]Maharshá[53], sobre Massêchet Yomá  (86b), explica que teshuvá meahavá  acontece quando a pessoa aperfeiçoa suas boas atitudes e acrescenta a elas mais do que o necessário. Assim, essas mitsvot  tornam-se perfeitas e os erros se transformam em méritos[54].
Encontramos ainda outras definições para teshuvá meahavá . O Meiri[55], um dos Rishonim, afirma que ela recebe essa classificação quando a teshuvá  surge por iniciativa própria da pessoa, sem que haja algum motivo externo que a impulsione a fazê-la, mas unicamente porque a Torá  e suas mitsvot  são verdadeiras. Outra definição para teshuvá meahavá  é a de que ela acontece quando a pessoa aproxima outros para cumprirem as mitsvot  e os demove de transgredir as leis da Torá  (vide Sêfer Hateshuvá, pág. 127, de autoria do Rav  Yossef Hacohen  zt”l ).

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