Parashá Mass’ê

Parashá Mass’ê, Bamidbar 33:1-36:13.
Haftará de Mass’ê, Yirmeyahu 1:1 – 2:3.
Cap. 2 do Pirkê Avót
Chazak, Chazak, V’nit Chazek! 
(Seja forte, seja forte e sejamos fortalecidos)

Shabat Mevarechim
Este Shabat é Shabat Mevarechim (o Shabat que “abençoa” a entrada de um novo mês). Uma prece especial é recitada abençoando Rosh Chodesh (Cabeça do Mês) do mês vindouro. Antes da bênção, anunciamos a hora exata do molad, o “nascimento” da lua nova. O Molad: Seg(20/07) 12:30 Hor. Brasília e 15 chalakim (50s).





Resumo

A Parashá Matôt (Bamidbar 30:2 - 32:42) inicia-se com uma discussão das leis sobre nedarim (promessas) e shevuot (juramentos). A Torá então descreve a batalha do povo judeu e a vitória sobre Midyan, seguida por uma narrativa detalhada da distribuição dos despojos de guerra. Antecipando a próxima chegada à Terra de Israel, as tribos de Reuven e Gad adiantaram-se para requerer que sua herança fosse a leste do Rio Jordão, ao invés de exatamente na Terra Santa, pois a margem leste seria mais apropriada para seus abundantes rebanhos. Após alguma discussão, Moshê concorda, mas apenas sob a condição de que ajudassem o restante da nação a conquistar toda a Terra de Israel, antes de retornarem para estabelecer-se no seu legado.
Já na Parashat Mass’ê (Bamidbar 33:1 - 36:13) inicia-se com um resumo de toda a rota viajada pelo povo judeu durante seus quarenta anos no deserto, começando com seu Êxodo do Egito e concluindo com sua chegada às margens do Rio Jordão. 
Após ordenar ao povo para expulsar todos os habitantes da Terra Santa, a Torá delineia as fronteiras exatas da terra de Israel. Já que os levitas não receberiam uma porção como os demais, cidades especiais foram separadas para eles. Alguns destes locais serviriam também como cidades de refúgio para alguém que, sem intenção, tenha matado uma pessoa, e então fugiria para uma destas cidades para buscar abrigo e evitar a vingança de um parente próximo da vítima, lá permanecendo até a morte do atual Cohen Gadol. 
Após estabelecer os parâmetros para as várias categorias de assassinato, o livro Bamidbar conclui com informação mais completa a respeito das filhas de Tslofchad e as leis sobre herança.


Mensagem

Há duas porções atrás, já no final da Parashá Balac, uma praga terrível e destruidora assolou os filhos de Israel, devido aos pecados instigados por nossos inimigos, os Moavitas e Medianitas.
Na mesma porção, toda nossa existência foi também perigosamente ameaçada por um hábil e poderoso feiticeiro não-judeu, Bilam, que foi contratado pelas forças conjuntas de Midyan e Moav para amaldiçoar o povo judeu, esperando torná-lo uma vítima indefesa para seus selvagens inimigos. Mesmo assim, na porção desta semana, quando D'us decide que chegou a hora de vingar a honra de Israel e destruir seus inimigos, Ele ordena a Moshê que destrua apenas os medianitas, permitindo que os moavitas escapem ilesos. 
Por que os medianitas foram escolhidos para a destruição, enquanto que os moavitas, que lideraram a extrema intrusão, foram poupados?
Para responder esta questão, Rashi explica que os moavitas agiram puramente por razões de auto-defesa contra um inimigo avultado e potente em suas fronteiras, enquanto que os medianitas haviam se engajado em uma disputa que não lhes dizia respeito, pois não foram ameaçados pelos judeus por viverem longe da rota para a Terra de Israel. Foi pela ação de ódio infundado dos medianitas que D'us quis vingança. 
Rashi explica que tal ódio e envolvimento nas disputas de outro povo é especialmente perigosa espiritualmente porque mesmo quando as partes chegam a um acordo, o ódio daquele que está de fora da disputa conservará seu vigor pois, afinal, não era baseado em coisa alguma.
Esta mensagem é especialmente fundamental para nossa geração, para quem ódio infundado é um de nossos maiores erros e desafios. O Talmud (Tratado Yoma 9b) exorta-nos que no caso do insuportável pecado de ódio fútil e infundado para com um irmão judeu, a esposa e o filho de quem odeia morrerá, D'us não o permita. Rashi explica que esta punição é midá k'neged midá, pois assim como a pessoa falhou em amar o próximo, aqueles que ama serão tirados de seu convívio. Portanto, devemos enxergar este pecado de ódio injustificado como um assassino impiedoso, e combatê-lo com fervor.
A "Três Semanas", o período de luto pela destruição dos Templos foi instituído neste período para despertar-nos de nossa rotina de pecado e incitar-nos ao arrependimento, para que possamos nos tornar merecedores da reconstrução do Templo. A destruição do Primeiro Templo foi devida ao envolvimento do povo judeu em assassinato, idolatria e relacionamentos imorais, e mesmo assim o exílio durou apenas setenta anos. O Segundo Templo, por outro lado, apesar do envolvimento dos judeus na Torá e boas ações, foi arrasado principalmente por causa do pecado ameaçador do ódio infundado, e infelizmente ainda não merecemos vê-lo reconstruído.
E esta influência sinistra ainda espreita entre nós, e infelizmente não temos o nível de boas ações e Torá que envolveu nossos antepassados. Honestamente, quantos de nós, ao ver um colega elevado a uma posição de honra que acreditamos ser nossa por merecimento, não fervemos face a tão horrível insulto, e imaginamos porque nossos amigos não correram a defender nossa honra? E mesmo assim, quantos de nós simplesmente passam pelos impulsos e leis deste período sem agir sobre sua mensagem essencial – erradicar o ódio injustificado de nosso coração?
Devemos instilar esta mensagem dentro de nós, arrepender-nos de nossos pecados cometidos, e aprendermos a praticar o amor injustificado e não o ódio, quando conseguirmos isso, e com a ajuda de D'us, o Templo será reconstruído, e espero que seja brevemente em nossos dias.

O povo judeu é único no sentido de ser verdadeiramente um, não uma coleção de indivíduos juntando-se para formar uma nação, mas uma única alma coletiva dividida em entidades separadas pelo menos assim deveria ser. Cada um tem uma identidade definindo seu papel especial como parte integral do todo. Assim como o corpo humano não funciona adequadamente a menos que cada parte faça seu trabalho, assim também a neshamá judaica coletiva adoece quando os indivíduos que a compõem não cumprem suas responsabilidades. E quando o corpo não está bem, todas suas partes sofrem.
O poder e responsabilidade a nós confiados por D’us são impressionantes, e as conseqüências de nossas falhas são potencialmente desastrosas. O Criador, em Sua infinita sabedoria, entendeu que a maioria de nós inevitavelmente tropeçaria de vez em quando durante nossa passagem pela vida neste mundo, portanto Ele construiu em Seu plano da criação um plano de emergência: quando uma pessoa tropeça, outra pode ajudá-la; quando algum judeu danifica o universo por agir de forma irrefletida ou descuidada, outro judeu pode reparar seu dano. 
Aqueles tsadikim, os justos que mergulham no estudo e prática da Torá de D’us, são a equipe da reparação. Ao atingirem níveis ainda mais elevados de entendimento e observância através de sua sensibilidade a cada nuance e entonação das palavras da Torá, retificam os enganos cometidos pelo restante de nós, e nos guiam em direção a um maior entendimento de nós mesmos, para que não erremos novamente.
Nas palavras da porção desta semana da Torá há uma sutil alusão a estas idéias. Quando alguém reconta suas viagens, normalmente diz que viajou a um determinado lugar e lá permaneceu. A Torá, entretanto, ao recontar as jornadas dos filhos de Israel, emprega uma frase estranha, sem mencionar chegada alguma. Além disso, a lista começa declarando: “E Moshê escreveu as suas saídas, conforme as suas jornadas… e essas são suas jornadas conforme as suas saídas.” (Bamidbar 33:2); além da aparente inconsistência e redundância, o próprio significado do versículo é evasivo.
As palavras deste versículo contêm o seguinte significado alegórico: em nossas jornadas pela vida, como as viagens dos filhos de Israel pelo deserto, às vezes “viajamos” para fora do caminho que D’us preparou para nós, e nos tornamos perdidos em um deserto espiritual. Nestes momentos, os justos dentre nós “saem” para retificar o que fizemos; pela sua persistência pessoal no estudo e prática da Torá, guiam-nos de volta ao caminho certo pelo exemplo que estabelecem. Dessa maneira, após “nos afastarmos” de um lugar, eles “acampam” no próximo, significando que eles restabelecem o balanço celestial do universo, e restauram a direção do povo judeu à sua correta orientação.
 
Ninguém deveria ficar satisfeito com suas conquistas, dizem nossos sábios, até que tenha atingido o nível de nossos antepassados Avraham, Yitschac e Yaacov. Esta não é uma tarefa impossível? Assustadora, talvez, mas não impossível, pois os sábios com suas palavras pretendiam transmitir-nos que assim como os Patriarcas aperfeiçoaram-se ao perceber o completo potencial que D’us lhes concedeu, assim também seremos como eles se desenvolvermos ao máximo nosso potencial. 
Dessa maneira, pedimos três vezes ao dia ao Criador em nossas preces para “colocar nosso quinhão junto deles – os justos – para sempre”. 
Ele nos guie e nos ajude a desenvolvermo-nos até o limite de nosso potencial, para que possamos ser contados juntos com os justos neste mundo e no vindouro.

Agora vos pergunto: Céu ou terra? O kolel ou o kibutz? Somos um povo espiritual cuja vida física é um desafio a ser superado ou na melhor das hipóteses, uma ferramenta a ser explorada na busca de metas espirituais, ou somos jardineiros encarregados por nosso Criador da tarefa de cuidar e cultivar o mundo no qual fomos colocados?
Temos debatido o assunto desde que começamos a ser um povo. Não foi esta a primeira mensagem que Moshê nos trouxe do Monte Sinai, que D’us deseja que nos tornemos Seu “reino de sacerdotes” e Seu “povo santo”? Por outro lado, olhe para a Torá que Ele terminou por nos dar naquela mesma montanha - 613 mandamentos, “dos quais praticamente todos falam de coisas materiais e assuntos deste mundo” (Tanya cap. 4). Por um lado, a Torá conclama: “Sejam santos, pois Eu, seu D’us, sou santo” (Vayicrá 19:2); por outro lado, o profeta exorta: “Ele não criou o mundo para tohu (‘caos’ e ‘transcendência’); Ele o criou para ser colonizado” (Yeshay’áhu 45:18), e três vezes ao dia proclamamos na prece Aleinu a declaração da missão: “Aperfeiçoar o mundo sob a soberania do Todo-Poderoso.”
Por um lado, temos a opinião expressa por Rabban Gamliel no segundo capítulo de Ética dos Pais: Belo é o estudo de Torá [combinado] com uma ocupação... Em última instância, todo o estudo de Torá que não é acompanhado com trabalho está destinado a cessar e a provocar o pecado. Por outro lado, temos a declaração por Rabi Nehorai na última página do Tratado Kidushin; Deixei de lado todas as profissões no mundo, e ensinarei somente Torá a meu filho.
Os dois lados do debate culminam no tratado talmúdico de Berachot, exemplificado e expresso pelas pessoas de Rabi Yishmael e Rabi Shimon bar Yochai:
Está escrito: “E colherás teu grão, teu vinho e teu azeite” (Devarim 11:14). O que isso nos ensina? Mas como está escrito: “O Livro da Torá não cessará de tua boca [e o estudarás dia e noite]’ (Yehoshua 1:8), eu teria pensado que a pessoa deve tomar estas palavras literalmente. Eis aqui o versículo para nos ensinar: “Colherás teu grão” - conduza-se também nos caminhos do mundo. Estas são as palavras de Rabi Yishmael.
Rabi Shimon bar Yochai diz: Se uma pessoa ara na estação própria, semeia na estação da semeadura, colhe na época da colheita, debulha na estação apropriada, e peneira quando há vento, o que será feito do [estudo] de Torá? Porém quando o povo de Israel faz a vontade do Todo Poderoso, seu trabalho é feito por outros, como está escrito (Yeshayáhu 61:5): “E estranhos virão pastorear suas ovelhas...” (Talmud, Berachot 35a).
E como é decidido o assunto? Bem, é difícil chegar-se a uma declaração conclusiva. A resposta geralmente é: “Ambos estão certos. Ou então: “Na verdade, ambos estão dizendo a mesma coisa.” Neste caso, o Talmud conclui:
Muitos fizeram como Rabi Yishmael, e conseguiram. Outros fizeram como Rabi Shimon, e não foram bem sucedidos.
Portanto, o judeu é um cidadão habilitado do planeta terra. Bem, sim, mas não exatamente. Enquanto a abordagem de Rabi Yishmael é considerada a mais bem sucedida, a de Rabi Shimon ordena um local muito mais notável na consciência judaica, com um dia especial em nosso calendário (Lag Baômer), devotado à celebração de sua vida e nossa tradicional veneração dos sábios e tsadikim que devotam a vida inteira ao estudo e à prece. E também, veja que o Talmud fala sobre “muitos” que conseguiram com a abordagem de Rabi Yishmael e falharam com a de Rabi Shimon. Isso implica a existência de uns “poucos” para quem a atitude de Rabi Shimon é não somente um ideal, como também um rumo de vida pragmático.
E assim foi desde o início. Em nossa primeira geração como um povo, enquanto ainda no deserto, a nação de Israel estava dividida em duas comunidades: 1) as doze tribos de Israel que receberam porções da terra e se tornaram fazendeiros, mercadores, políticos e soldados; e 2) os integrantes da tribo de Levi, que foram “consagrados” ao serviço de D’us no Templo Sagrado como “Levitas” e “Cohanim.”
E os levitas certamente eram em menor número: eram uma tribo em 13, e a menor de todas. (O recenseamento realizado nas 12 tribos contabilizou 603.550 homens entre as idades de 20 e 60; o censo separado dos Levitas incluiu até bebês do sexo masculino com um mês de idade, e somaram apenas 22.300)
O que decide quem faz parte dos “muitos” e quem faz parte dos “poucos”? Se formos pelo modelo Levita/Israelita, então parece ser uma questão de pedigree - ou você nasce sendo um jardineiro da terra de D’us, ou nasce para uma vida de espiritualidade.
Diz Maimônides: “Não apenas, a tribo de Levi, mas qualquer homem de todos os habitantes da terra, cujo espírito o faz mover-se e cuja mente lhe permite entender para colocar-se de lado e ficar em pé perante D’us para servi-Lo, adorá-Lo, conhecer a D’us e caminhar retamente como D’us o criou, e tirou de seu pescoço o jugo dos muitos cálculos que o homem busca - este homem tornou-se santificado, um santo dos santos, e D’us será sua porção e seu legado para sempre, e lhe concederá tudo que precisar neste mundo, como Ele concedeu aos Cohanim e aos Levitas... (Mishnê Torá, Leis da Shemitá e Ciclos de Yovel, 13:13)”.
O que ocorre é que, como em quase tudo o mais, D’us nos diz: “A ESCOLAHA É SUA”.




גוט שבת
שבת שלום
הרב יצחק כהן

Gut Shabes
Shabat Shalom
Rav Itzhak Levy Cohen.

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